
RUA XV DE NOVEMBRO
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.

A RUA E SUA HISTÓRIA
A Rua XV de Novembro pode ser considerada como uma das mais importantes ruas da cidade de Curitiba. E isto não se reserva somente aos dias de hoje, uma vez que desde a emancipação da cidade no século XIX, a rua já possuía um grande número de sobrados e foi a primeira na cidade a receber calçamento. A primeira menção feita a Rua das Flores, como era chamada em meados do século XIX, foi feita no Plano do Engenheiro Pierre Toulois, de 1856, que previa melhorias na região central da cidade.
O nome da rua foi inspirado nos grandes quintais arborizados e na intensa vegetação do Rio Ivo, que foi canalizado abaixo da Av. Luiz Xavier. Apesar do seu grande destaque, a Rua das Flores no século XIX muito se assemelhava a grande parte das ruas que delimitavam o que hoje é o centro da cidade: um espaço com muita terra e que quando chovia, se transformava em um grande lamaçal. De fato, Curitiba demoraria ao menos mais meio século para iniciar grandes obras que se preocupassem com problemas básicos de planejamento e urbanização. Mas sem dúvidas, quando isto acontecesse, a Rua XV de Novembro se destacaria nesse cenário.
No ano de 1880, Curitiba recebe a visita da família imperial e por conta das festividades em sua acolhida, a Câmara Municipal muda o nome da Rua das Flores para Rua da Imperatriz, em homenagem a D. Thereza Christina Maria de Bourbon. Logo após a proclamação da República, a rua é novamente rebatizada com o nome que perdura até os dias de hoje, Rua XV de Novembro. Vários outros pontos da cidade foram rebatizados fazendo alusão a personagens da República no final do século XIX ou a eventos que marcaram esta transição de um país monárquico para um país republicano. Esta virada de século, também iria representar a busca por uma identidade mais moderna e cosmopolita nas cidades que estavam tornando-se cada vez maiores e populosas, como o caso de Curitiba. No ano de 1905, o novo Código de Posturas já estabelecia uma espécie de zoneamento na cidade, que delimitava as normas e características construtivas para os edifícios. Para a Rua XV de Novembro, ficava proibida a construção de edificações de madeira, assim como as que possuíssem somente um pavimento. Esta nova norma mostra a importância da Rua, assim como a relação dela com o poder aquisitivo das pessoas que ali residiam ou possuíam comércio.
Fonte: Centro de Documentação e Pesquisa Casa da Memória.
A Rua XV de Novembro está adjacente a uma pequena avenida – famosa pelo mito de ser a menor do mundo – a Avenida Luíz Xavier, batizada com o nome do primeiro prefeito curitibano a ser reeleito, de 1900 a 1907. A partir da década de 20, estre trecho da Av. Luiz Xavier até o início da Praça Osório, ficaria conhecido como Cinelândia, por conta dos edifícios que abrigaram cinemas na região. O Cine Avenida, inaugurado no Palácio Avenida em 1929, seria um dos primeiros, seguidos de tantos outros como Cine Ópera ou o Cine Palácio. Até a segunda metade da década de 1970 é possível relacionar este trecho da Rua XV de Novembro com os espetáculos da sétima arte. Outro fenômeno que representava a Rua XV de Novembro ainda no início do século XX, era o footing, que poderia ser resumido como um desfile casual de moças e rapazes, em um ritual de flerte e olhares, nas tardes dos finais de semana.
A Rua passou por diversos melhoramentos ao longo das primeiras décadas do século XX, como calçamento, iluminação, dentre outros. É possível dizer que nestas primeiras décadas, a Rua já se consolidava com funções bem claras de comércio e espaço social. Isto se confirmaria na década de 40 com o Plano Agache, um plano de urbanização desenvolvido pelo urbanista francês Alfred Agache para a cidade de Curitiba, em 1943. Inspirado no urbanismo moderno, Agache previa uma cidade dividida em funções específicas, dentre as quais, definia a região da Rua XV como Centro Comercial e Social. Uma das sugestões contida no Plano era a de fazer galerias na parte inferior dos edifícios da Rua XV, facilitando e melhorando a passagem dos pedestres pelas calçadas. Estas galerias seriam construídas anos mais tarde, durante o mandato de Jaime Lerner.
Apesar das inovações propostas com o Plano Agache ainda na década de 1940, grande parte das modificações na estrutura urbana da cidade viriam com o Plano Diretor de 1966. Em virtude do aumento da população urbana e do consequente crescimento desordenado da cidade, muitas ideias surgiram para solucionar os problemas referentes ao congestionamento das regiões centrais e para direcionar o crescimento da cidade para regiões adjacentes. Seria a primeira vez que se discutiria a possibilidade de fechamento da Rua XV para pedestres, uma proposta ousada e que renderia duras críticas, principalmente por parte dos comerciantes da região. Porém, com a chegada de Jaime Lerner a prefeitura da cidade, a ideia seria colocada em prática, aproveitando o recesso do final de semana e iniciando as obras na noite de sexta-feira do dia 19 de maio de 1972. Toneladas de brita, areia e petit-pavet deram início a um dos primeiros calçadões destinados ao comércio e espaço de sociabilidade do país. A Rua passaria a ganhar uma nova identidade e seria um dos símbolos das mudanças urbanísticas que buscariam dar mais espaço ao transporte público e a pedestrianização de partes centrais da cidade.
Fonte: Centro de Documentação e Pesquisa Casa da Memória.
Outra região que traz uma importância quanto a própria identidade da rua, é a Boca Maldita. O local, situado nas proximidades da Av. Luiz Xavier, nos cafés das galerias dos Edifícios Tijucas e Moreira Garcez, se transformou em um ponto de encontro de homens de meia idade que discutiam assuntos como política ou futebol, de maneira “democrática e sem pudor”. Por mais que estes encontros ocorressem com uma parcela restrita da população, a Boca Maldita se consolidaria anos mais tarde como símbolo de luta contra a Ditadura Militar, quando se transforma em palco do primeiro comício nacional das “Diretas Já”, em 1984. Depois deste evento e com a volta da democracia no país, a Boca Maldita receberia inúmeros comícios de diferentes partidos, além de shows e apresentações culturais das mais diversas.
O trecho da Rua XV que liga a região da Praça Osório até a Praça Santos Andrade está contida no livro tombo do Estado, tamanha sua importância para o contexto histórico da cidade assim como a necessidade em se conservar seus edifícios. O trecho que vai da Rua Monsenhor Celso até a Rua Presidente Faria concentra a maior parte dos casarões que ainda mantém suas fachadas originais, algumas ainda da década de 20. No ano de 2016, foi concluído o restauro do prédio histórico dos Correios. Construído em 1934, o prédio foi símbolo do estilo art déco e hoje encontra-se restaurado, na esquina da Rua XV com a Rua Presidente Faria. O edifício também faz parte da Unidade de Interesse e Preservação do município.
Um dos prédios mais antigos desta região é o datado de 1893, destinado primeiramente a moradia e comércio e que já foi sede do antigo banco Banestado. Suas janelas com arcos guarnecidos de ferro são detalhes que chamam bastante atenção e se destaca diante dos outros prédios. Alguns metros adiante, ainda em pleno funcionamento, está a Confeitaria das Famílias, ponto comercial inaugurado em 1945 pelo espanhol Jesus Alvarez Terzado. Sua fachada e interior se conservam, principalmente por conta do restauro realizado no ano de 1984.
A Rua XV de Novembro mantém nos dias de hoje suas características centrais de local de comércio e sociabilidade. O prolongamento do calçamento ao longo dos anos prova que a audaciosa ideia na década de 1970 rendeu bons frutos para os comerciantes locais. Atualmente, o comércio ambulante também se tornou recorrente, seja com artistas locais expondo suas obras ou vendedores do jogo do bicho. Eventos culturais dos mais diversos, apresentações e outras campanhas da própria prefeitura acontecem nesta rua, tornando-a bastante diversificada dentre tantas outras da cidade.
A PASSAGEM DO TEMPO
Fonte: Centro de Documentação e Pesquisa Casa da Memória e Equipe do Observatório do Espaço Público.
PERCEBENDO O ESPAÇO
Fotografias: Equipe do Observatório do Espaço Público.
TEXTURAS
Uma das texturas que se destaca na Rua XV é a das flores plantadas em toda a sua extensão, que dão à via o apelido de Rua das Flores. Além dessa, a textura do piso em petit pavet é predominante, sendo interrompida apenas pelo piso tátil, pelas tampas e pelos bueiros.
Nas edificações, percebe-se uma falta de unidade resultante dos diferentes estilos arquitetônicos presentes na rua e a diversidade de cores e materiais utilizados no comercio do primeiro pavimento dos edifícios, que tem o intuito de chamar a atenção dos transeuntes.
Em contra partida, aparece repetidamente em toda a via a madeira nos canteiros, bancos e lixeiras, trazendo a ela um certo grau de unidade que havia se perdido diante dos comércios.






CORES
Em um primeiro momento na Rua XV, nota-se a predominância de cores acinzentadas emanando do piso de petit pavet claro e do conjunto de edificações que acompanham o passeio em toda a sua extensão. Junto da cor de céu, que traz uma atmosfera mais alegre quando azul e séria quando cinza, de fato são as mais constates e dão à rua seu caráter neutro.
Entretanto, ao longo do percurso, é possível de se notar novos elementos que trazem um aspecto mais colorido à constância da rua.
Entre eles está a vegetação com o vermelho das flores nos canteiros de madeira e o verde das árvores nas laterais do passeio. Também é possível de se notar o verde das recorrentes luminárias republicanas, o marrom dos bancos, lixeiras e canteiros feitos da mesma madeira e o branco da cobertura das banquinhas.
Outros elementos que não podem ser descartados são o colorido das fachadas comerciais nos andares térreos e o movimento das próprias pessoas que colorem a rua com sua presença.
Além disso, a Rua XV conta com elementos singulares que marcam pontos específicos de sua extensão por conta da coloração, como é o caso do antigo ponto de ônibus roxo e do bondinho da leitura vermelho.
Como conclusão, constata-se que a rua, em um primeiro momento aparentemente neutra, é na verdade repleta de cores que acabam se mesclando no olhar.
SONS
O som que acompanha o percurso da Rua das Flores é o de pessoas. Pessoas caminhando, conversando, vendedores apresentando seus produtos, músicas de suas caixas de som...
Existem, contudo, três momentos em que a rua de pedestres dá lugar a outros sons. No seu início e fim é possível escutam o som dos veículos transitando nas vias próximas à Rua XV. E, na metade do trajeto da via, encontra-se uma fonte cujo som do movimento da água sobrepõe o das pessoas.
De maneira geral, a poluição sonora permeia a via. Mas a presença das árvores, principalmente quando encontradas em maior densidade, ajudam a abafar os ruídos e a trazer uma sensação de maior tranquilidade para os transeuntes.
ODORES
Os odores que se sobressaem durante a caminhada pela Rua XV é o de poluição, consequência da densa atmosfera urbana do centro da cidade.
Eventualmente, é possível sentir o cheiro de comida vindo dos comércios localizados no perímetro da rua e o cheiro oriundo dos bueiros localizados no passeio.
SENSAÇÕES
Caminhar pela Rua XV é uma experiência singular e intensa. Sem dúvidas, um de seus maiores marcos é a ausência de vias e domínio do passeio, que traz como consequência uma maior atividade de transeuntes.
A caminhada física para os pés não é turbulenta, uma vez que mesmo com algumas irregularidades, o grande passeio de petit pavet mostra-se como um elemento constante. Entretanto, o conjunto de informações, simbologias, mobiliários e atividades ocorrendo simultaneamente acarreta no resultado de uma caminhada frenética.
O ritmo acelerado das pessoas junto da grande quantia de comércio traz a quem transita por ela uma sensação de agitação, movimento e caos. A linearidade, contando com um ponto de fuga ao fundo, auxilia nessa sensação de fluxo contínuo.
Apesar da sensação de movimento constante, o local apresenta espaços que convidam a permanência, como é o caso dos nichos com canteiros e bancos. A fonte é outro elemento que remete à tranquilidade com seu elemento água. Por outro lado, o excesso de luminárias traz uma sensação de estranhamento.
Fica evidente a diferença de se caminhar pela parte da rua sem uma arborização mais densa e por meio do túnel de árvores. O segundo caso traz uma tranquilidade e acolhimento muito maior a quem por ali passa. Existem pontos da rua em que o pedestre se sente abraçado pelas marquises ou árvores, outros devorado pelo comercio ou diminuído pela arquitetura imensa.
A insegurança é outro ponto marcante para quem caminha pela rua XV, a qual é consequência do caos do local, das placas de monitoramento e dos carros policiais em pontos da rua.

VEGETAÇÃO
A Rua XV de Novembro possui diferentes espécies em sua extensão. No início do trecho pedestralizado, vários Ipês-Amarelos (Tabebuia chrysotricha) produzem um corredor, que no inverno formam também um tapete de flores amarelas - épocas em que florescem.
No trecho seguinte, entre a Rua Barão do Rio Branco e a Rua Monsenhor Celso, surgem as Cerejeiras do Japão (Prunnus serrulata), com suas folhs densas e verdes durante a primavera e o verão e as flores rosas tão características também da época de inverno.
As Quaresmeiras (Tibouchina granulosa) também chamam atenção devido às suas folhas de um verde escuro com nervuras que seguem o formato da folha e flores roxas no período de floração - entre janeiro e abril e também entre agosto e outubro.
Também e necessário citar a patas-de-vaca (Bauhinia forficata e Bauhinia variegata), no trecho entre a Alameda Dr. Muricy e o Bondinho da XV. Elas possuem esse nome por causa do formato das folhas, semelhantes ao casco do animal. A cor das folhas também chama atenção, é de um verde claro, quase pastel. Duas espécies compõe a paisagem neste trecho, uma que produz flores rosas e outra, flores brancas.













EDIFÍCIOS NOTÁVEIS












Clique nas imagens para saber mais sobre cada um dos edifícios que compõem a rua!
PASSEIO VIRTUAL
Se você está andando pela rua, escute nosso podcast e siga os pontos marcados no mapa:
Se você está em um passeio online, fique à vontade para ouvir o podcast enquanto explora os ícones no mapa abaixo para continuar a descobrir a Rua XV de Novembro!



Este material também está contido em três folhetos que você pode baixar e imprimir clicando aqui:




Mapas: autoria própria com base em dados do IPPUC
Equipe: Alessando Filla Rosaneli, Amanda Machado, Beatriz Fófano Chudzij, Bianca Araújo, Érica Martinelli Victorino, Giulia Vendrami Gomes, Isabela Ventura de Camargo, Janelize Marcelle Diok Rodrigues, Maria Luiza Ballarotti, Mario Pavanelli, Núbia Parol







